A emocionante carta de Yuri Gagarin que nunca chegou ao seu destino

Lucas Rubio
3 min readJan 11, 2022

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Em abril de 1961, poucas horas antes de começar sua épica jornada para o Cosmos, Yuri Gagarin foi aconselhado a escrever uma carta para sua família. A carta seria entregue apenas em caso de falha na missão que acarretasse sua morte. Gagarin então escreveu um emocionante e belo texto que conhecemos há algum tempo. Como ele não morreu na missão, o conteúdo ficou um bom tempo como secreto.

Ele dedica sua ida pioneira ao espaço ao comunismo e às pessoas que trabalham por isso. São linhas que falam com nossos corações pela eternidade do tempo. Leia:

Gagarin com suas filhas: Yelena Gagarina e Galina Gagarina

“Olá, minhas queridas e ardentemente amadas Valetchka, Lenotchka e Galochka*!

Resolvi escrever algumas linhas para vocês pra compartilharmos juntos a alegria e a felicidade que caíram sobre mim hoje. Hoje, uma comissão do governo decidiu me enviar primeiro ao espaço. Você sabe, querida Valyusha, como estou feliz, quero que você fique feliz junto comigo. Uma pessoa comum foi incumbida de uma tarefa de Estado tão grande — pavimentar a primeira estrada para o Cosmos! Poderia sonhar com algo maior? Afinal, isso é história, esta é uma nova era!

Dentro de um dia, vou ser lançado. Durante esse tempo, vocês estarão por sua própria conta.

Uma tarefa muito grande caiu sobre meus ombros. Eu gostaria de estar com vocês um pouco antes disso para conversar. Mas, infelizmente, vocês estão longe. No entanto, sinto que vocês estão sempre ao meu lado. Eu acredito totalmente na tecnologia. Ela não deve falhar. Mas acontece que do nada uma pessoa pode cair e quebrar o pescoço. Algo pode acontecer aqui também. Mas ainda não acredito nisso. Bem, se algo acontecer, então peço a vocês, e, antes de tudo a você, Valyusha, que não fique aflita. Afinal, vida é vida, e ninguém tem garantia de que não será atropelado por um carro amanhã. Por favor, cuide de nossas meninas, ame-as como eu amo. Eduque-as, por favor, não como bonecas ou filhas de mamãe, mas pessoas de verdade que não teriam medo dos solavancos da vida. Crie pessoas dignas de uma nova sociedade — o comunismo. O Estado vai te ajudar nisso. Bem, organize sua vida pessoal como sua própria consciência lhe disser, como achar melhor. Eu não lhe imponho nenhuma obrigação, e não tenho o direito de fazê-lo.

A família completa, incluindo Valentina Gagarina, a esposa do primeiro cosmonauta do mundo

É muito triste receber uma carta fúnebre, mas eu mesmo não acredito que você vai receber. Espero que você nunca veja esta carta, porque eu ficarei envergonhado de te ver na minha frente depois dessa minha fraqueza passageira. Mas, se acontecer alguma coisa, você deve saber tudo até o fim.

Até aqui, eu vivi honestamente, com sinceridade e para o benefício das pessoas, embora fosse uma peça pequena. Certa vez, quando criança, li as palavras de V. P. Chkalov: “Se é para ser, então que seja o primeiro”. Então eu estou tentando ser e serei até o fim. Quero, Valetchka, dedicar este voo ao povo de uma nova sociedade, o comunismo, na qual já vamos entrar; quero dedicar à nossa grande Pátria, nossa Ciência.

Espero que em poucos dias estejamos juntos novamente para sermos felizes.
Valetchka, por favor, não se esqueça dos meus pais, se houver uma oportunidade, ajude com alguma coisa. Dê a eles meus grandes cumprimentos e que eles me perdoem por não saberem nada sobre isso, mas é que eles não deveriam saber.

Bem, isso parece ser tudo. Adeus, minha família. Eu te abraço e te beijo com força!

Com minhas saudações, seu pai, Yura.
10 de abril de 1961.”

* O texto é cheio de nomes “estranhos”, mas é que na verdade são apelidos carinhosos para Valentina (sua esposa), Yelena e Galina (suas filhas).

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Lucas Rubio

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