Há 76 anos: a abertura do portal da morte destruidora de mundos

Lucas Rubio
5 min readJul 17, 2021

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Há 76 anos, em 16 de julho de 1945, os Estados Unidos da América detonaram o primeiro dispositivo nuclear da História, a bomba atômica “Trinity”. A explosão aconteceu no deserto do Novo México às 5h30min da manhã e liberou uma energia de 20 kilotons, duas mil vezes mais poderosa que o armamento mais forte da época até então.

A explosão de Trinity marcou o início da Era Nuclear e o consequente bombardeamento nuclear do Japão e da Corrida Armamentista das décadas seguintes.

Imagem da primeira arma nuclear da História sendo detonada no deserto dos EUA em 16 de julho de 1945

A História da criação de uma bomba operada com o poder do átomo tem várias versões e pode-se dizer que começou em vários lugares ao mesmo tempo: Estados Unidos, Alemanha Nazista e União Soviética. Dos três países, apenas os EUA conseguiram produzir um armamento desse tipo antes da Segunda Guerra Mundial acabar.

No caso dos EUA, os esforços para a produção de uma bomba nuclear nasceram da famosa carta dos cientistas Albert Einstein e Leó Szilárd, ambos refugiados do nazismo, ao presidente Roosevelt, em agosto de 1939, alertando do perigo da Alemanha Nazista conseguir sucesso na construção de um tipo de bomba como essa. Do aviso, acabou nascendo o Projeto Manhattan, um plano ultrassecreto do governo dos EUA para a obtenção de uma arma atômica que mobilizou imensas quantidades de dinheiro e cientistas de vários países. A maior parte dos técnicos e teóricos do projeto eram estrangeiros ou descendentes de imigrantes.

Albert Einstein e Leó Szilárd assinam a carta enviada ao Presidente Roosevelt avisando sobre o perigo de os nazistas construírem armas nuclares

A desculpa para a produção dessa arma, por parte dos EUA, foi o perigo que Hitler representaria com uma dessas em mãos.

Em julho de 1945, porém, Hitler e o nazismo não existiam mais, uma vez que a Alemanha havia capitulado diante da chegada do Exército Vermelho em Berlim em maio do mesmo ano. Relatórios da inteligência dos EUA descobriram que os nazistas não haviam conseguido desenvolver nenhuma arma nuclear.

Mesmo sabendo que também a URSS não tinha esse tipo de arma e que ninguém mais no mundo tinha condições de produzir dispositivos nucleares nem nos próximos anos, os EUA resolveram levar adiante o programa de construção de armas atômicas, dessa vez para serem usadas contra o Japão.

Antes do bombardeamento final de agosto de 1945, foi realizado um evento teste no deserto do Novo México, exatamente nesse dia, há 76 anos, com o dispositivo Trinity.

A detonação de Trinity (à esquerda) deixou uma cratera de 300 metros de diâmetro, como pode ser vista na fotografia área da direita

Robert Oppenheimer, o diretor do Projeto Manhattan, na hora que viu o cogumelo da explosão nuclear de Trinity, desesperado, recitou os versos de um texto sagrado hindu: «Tornei-me a Morte, Destruidora de mundos», enquanto seus colegas estadunidenses davam “vivas!” e riam pelo sucesso da detonação. Oppenheimer caiu em profunda depressão depois disso e, posteriormente, em visita ao presidente dos EUA, Harry Truman, foi expulso do salão presidencial da Casa Branca justamente por ter exposto seus receios quanto ao uso de armas atômicas, aos quais o Truman teria dito que a culpa era somente dele mesmo e que ele não se sentia nada culpado por isso.

Poucas semanas depois do teste de Trinity, o governo dos EUA autorizou o uso de dois dispositivos nucleares que foram detonados em cima de alvos civis nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, numa ação muito mais geopolítica contra a União Soviética do que realmente estratégico-militar contra o Japão.

A detonação voluntária de Trinity, mesmo sem necessidade, além do bombardeamento duplo do Japão, os três causados pelos Estados Unidos da América, levou a Humanidade para o passo seguinte — e sombrio — de seu desenvolvimento, trazendo à tona o mais obscuro poder de destruição aprisionado no coração do átomo.

Um memorial em forma de obelisco atualmente marca o ponto zero da detonação de Trinity

São os EUA os culpados por jogar a Humanidade no terrível jogo nuclear que ameaçou e segue ameaçando a nossa existência enquanto espécie e planeta com vida. Foram eles que obrigaram a União Soviética e outros países, como a China e a Coreia do Norte, a desenvolverem armas do mesmo tipo para poderem resistir à chantagem nuclear que Washington começou a praticar com prazer sádico.

Que lembremos eternamente do 16 de julho de 1945, quando o portal da morte destruidora de mundos foi aberto pelos Estados Unidos.

Lucas Rubio

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Comentários adicionais e dicas de pesquisa

Esse ótimo documentário do History Channel(sim, um milagre) explica muito bem a questão geoestratégica que prova que as bombas sobre o Japão na verdade foram direcionadas para a URSS:

Como material auxiliar para entender sobre esse assunto e o funcionamento de armas nucleares, é recomendável assistir a excepcionalíssima explicação do episódio 10 da segunda temporada do seriado científico “Cosmos”:

Vale citar também que, depois disso, os EUA se tornaram obcecados por testes nucleares. Já em 1946, mesmo sem a URSS ter ainda conquistado sua bomba atômica (que aconteceria em 1949), os EUA conduziram o terrível teste nuclear do Atol de Bikini, que inclusive deu o nome da peça de roupa que as mulheres usam na praia. A Operação Crossroads detonou armas nucleares na água.

A megalomania estadunidense em busca de armas ainda mais poderosas e destrutivas, em parte alimentada pelo cientista Edward Teller, levou à catastrófica explosão de Castle Bravo em 1954, também em Bikini, que exterminou vida por um raio gigantesco, incluindo vidas humanas e indígenas, quando a situação saiu do controle e a arma detonou com potência muito maior que o esperado.

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